terça-feira, 17 de junho de 2008

Religião em Hume

Religião em Hume
(1711 – 1776)



As paixões são impressões que originam de outras percepções e são naturais da natureza humana e independente da razão, e assim para Hume a vontade não é determinada pela razão e sim pelas paixões. Disto conclui-se que, a moral e a religião não se fundam na razão. Os sentimentos são os elementos condutores destes. Hume entende que moral aflora paixões e esta é promotora de ações ou não. Daí ele concluir que a moral nasce do sentimento e não da razão, assim como a religião tem como origem do Divino a idéia que nasce do temor da morte, ou seja, derivado do sentimento. Resumindo a religião e a moral tem como fundamento o sentimento. A razão seria para estas apenas um orientador e estaria a serviço destas. E que sentimento seria este que originaria a moral. A resposta é o prazer. Não um prazer qualquer, mas o prazer que sentimos ao agir com virtude, ou presenciar a virtude. Ou o desprazer ao presenciar ao agir não virtuosamente. E por fim, a ética de Hume tem como base a utilidade das ações, não de forma particular, mas aquela que inclui toda a sociedade. A ética de Hume é utilitarista, ele vê do ponto de vista pragmático, se é útil não de forma individualista, mas para todos sem exceção. Podemos fazer certa similaridade com a ética de Aristóteles, em sua “Ética a Nicômaco” quando ele afirma que só pode existir uma ética quando todos os cidadões agem de com uma moral que vai de encontro ao interesse de toda a polis.
Mas voltando a Hume, mesmo ele tendo escrito um livro com o título de A História Natural da Religião, em que ele apresenta uma teoria das origens das religiões e discute neste livro vários aspectos sociais, psicológico e outros, os quais fazem com que a maioria das pessoas aceite uma condição religiosa, sua intenção com o estudo da religião era definir em termos de uma crítica filosófica às principais tentativas feitas nos séculos anteriores em se mostrar racionalmente a doutrina crista.
A religião para Hume não tem fundamento racional. Ele recusa todas as provas apresentadas pelos teólogos para comprovação da existência de Deus. A estas ele considerou no máximo como plausíveis e ainda coloca que não existe consistência na ligação entre religião e a ética. A religião é instintiva, a mesma nasceu do medo da morte que assim cria o divino. A ignorância é a mãe da devoção. Apesar de seu ceticismo, Hume afirma que uma sociedade sem religião se aproxima de animais irracionais.
Hume mostra que os milagres não têm algo de convincente. Nada ainda já violou a lei da causalidade. E que o maior milagre não seria o milagre em si, mas a prova daquele milagre. Os milagres seriam fatos fantasiosos de alguém que possivelmente não quis mentir, mas de alguém que não fez a devida verificação do que ocorreu, o mesmo pode-se dizer daquele que ouviu o relato e não fez o mesmo. Ele afirma que “nenhum testemunho é suficientemente forte para estabelecer a ocorrência de um milagre”.
Por fim a questão do mal em que ele associa com a existência de Deus. Ele coloca nestes termos: Se Deus é onisciente, onipotente, e sumamente bom, então este ser tem consciência do mal e sabe como eliminá-lo do mundo, e ainda, este Deus é infinitamente bom sabe e deseja eliminar todo o sofrimento do mundo. Então se Deus existe não há mal no mundo. Mas no mundo há mal e sofrimento, então Deus não existe.
Os argumentos de Hume são plausíveis, no entanto, pois oferecem uma posição que até aquele momento ninguém o fizera. Colocar de forma racional e lógica as argumentações a respeito da religião e da existência de Deus. Hume, no entanto, não considera a própria dualidade do mundo em que estamos inseridos, a existência de algo neste mundo pressupõe o seu oposto, o que a justifica, por exemplo, o frio da sentido ao calor, à noite ao dia, o medo à coragem, o amor ao ódio e assim temos uma longa lista aqui sem fim. O nosso próprio pensamento é montado nesta estrutura e não existiria se não fossem os contra-sensos do mundo. O próprio entendimento seria impossível sem os mesmos. Assim o próprio entendimento de Deus não seria possível fora desta dualidade e mesmo impossível dentro desta dualidade.

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