quarta-feira, 18 de junho de 2008

Socialização: A Interiorização da Realidade. Cap.III

MOREIRA, Paulo Roberto. Psicologia da Educação interação e identidade. 2 ed. São Paulo: FTD, 1996.

Paulo Roberto Moreira, psicólogo clínico, formado pela Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto. 1972). Pedagogo (1973) e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Depto. de Psicologia do Desenvolvimento).

Fez pós-graduação na Escola de Comunicação e Artes da USP. Sua tese de mestrado “Jung e Direção Teatral” (1989) resumem seu interesse pela integração entre Psicologia e Arte, áreas que compõem seu trabalho em educação e em psicologia clínica. É também ilustrador e artista plástico. Como diretor teatral coordena atualmente o curso de teatro do TUCA (Teatro da Universidade Católica de São Paulo).

O texto tem como foco principal ressaltar que a socialização acontece num processo de interiorização de uma realidade previamente construída, ou seja, onde a família é o primeiro e principal elemento desse processo.

O autor afirma que o sujeito social é resultado de arranjos possíveis e a aceitação é a sua única alternativa. A assimilação do mundo dos pais como real e indiscutível e não como algo pertencente a um contexto. A socialização acontece de forma lenta e gradual por toda a vida sem nos darmos conta de sua existência, ou seja, é construído ao longo do tempo e do espaço. A socialização não é natural, ela é naturalizada. Algo que vem de fora e que sofre influência de agentes ideológicos para a manutenção da condição social.

Assim como o meio externo muda com o tempo, os elementos que interagem na educação também são afetados; temos como exemplo as mudanças que ocorreram na família, pois diferentemente de tempos atrás em que a educação era quase exclusivamente uma tarefa dos pais, hoje é múltipla em seus colaboradores. No entanto, a mesma continua sendo o ponto central para a inserção da pessoa humana no mundo social.

A linguagem torna possível a interiorização dos elementos sociais inerentes a sua classe social. Neste contexto pai e mãe são os principais elementos que contribuem significativamente para a interação do novo indivíduo. Os vínculos são de elevada relevância na sua formação.

O autor observa que, a relação mãe-filho, com a influência do pai para formação de sua individualidade, é de fundamental importância para a interiorização da socialização e, o equilíbrio nesta relação é o que definirá a saúde emocional e consequentemente social do indivíduo. A criança já a partir dos dois meses de vida dá os primeiros sinais de sociabilizacão e tem início a formação de sua identidade com a interação com o mundo por meio de um modelo relacional. Pelo sorriso a criança testa a sua aceitação pelo “mundo” estréia a sua participação na comunicação social. A boca da criança é o elo de vida entre ela e o mundo. É a porta de entrada de alimento e troca mútua de afeto. A comunicação e interação social nascem no seio da mãe. Um ambiente hostil nesta fase tem conseqüências negativas no desenvolvimento intelectual da criança.

O autor ressalta ainda que, a alternância entre presença e ausência da mãe contribui para a formação de sentimentos contraditórios deslocando-a de seu estado de acomodação e impulsionando-a a agir com o meio para a satisfação de suas necessidades. A comunicação com os adultos é fundamental para a sua formação. Como conseqüência a compreensão da liberdade não parte da própria liberdade em si, mas do que não é liberdade. O confronto do sim e do não da a compreensão dos limites da sua individualidade. A liberdade só existe quando a criança percebe os limites de seu convívio social. A socialização é libertadora quando permite a experimentação livre. A afetividade é também um fator de controle social quando no exercício do poder. O sentimento de culpa pode ser um elemento de controle social. Ao aprender a obedecer aos pais a criança aprende a obedecer a todos que parecem ser superiores.

A criança quer ser vista, amada e respeitada. O castigo molda o ser do futuro de acordo com as leis da repressão. Um agravante ao excesso de regras pode ser a ausência destas. A hierarquia, a importância dos limites a possibilidade da experimentação e sua conseqüente avaliação das lições aprendidas compõem a socialização libertadora. A criança busca modelos para construção de sua própria identidade. Assim a pureza de sua moralidade, a fidelidade total aos valores sociais, em algum momento de seu desenvolvimento, entra em choque com o real. Ela se revolta e sente-se traída quando o ideal ao qual foi apresentado e como um objetivo a ser respeitado e preservado não é o que se apresenta na realidade dada pelos agentes socializadores (pais, escola, religião, meios de comunicação, etc.).

Moreira afirma que a integração da família com a escola é o caminho ideal para o educando construa sua individualidade com autonomia num ambiente social saudável.

Ao nascer a criança sofre um forte golpe de rejeição pelo útero. É preciso resgatar o carinho e afeto perdido. É preciso receber, mas também dar algo em troca (sorriso). Todos saem ganhando. O adulto também se socializa, ou melhor a sua sociabilizacão se completa na aprendizagem do cuidar, ou seja, ao receber mesmo que sejam pequenas demonstrações de carinho como resultado de sua doação. O educando e o educador são seres de carência. Existe um acordo não explícito entre ambos. Contratos são celebrados. Pagamentos são ajustados com uma moeda de troca simbólica e imaterial. A necessidade é indiscutivelmente mais emocional do que física. Meses do mais nutritivo manjar não contém mais do que um simples olhar de carinho, que pode transformar uma vida para sempre. A interiorização dos valores dados de forma equilibrada pelos agentes educadores realmente comprometidos com a ética pessoal e social é o que possibilitará o surgimento de, mais do que bons profissionais, de pessoas autônomas, confiantes, éticas e sociavelmente saudáveis.

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